domingo, 10 de março de 2013

Jean Wyllys volta a criticar Marco Feliciano e fala em conspiração política para “concretização da ditadura fundamentalista”. Leia na íntegra


O deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ) publicou um artigo em sua coluna no portal IG, lamentando a indicação de Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados.
No texto, Wyllys afirma que esse fato só foi possível devido a conspirações políticas e que o resultado representa um retrocesso na luta encampada pelos militantes do movimento homossexual.
“Hoje, os defensores, militantes, ativistas dos Direitos Humanos, aqueles e aquelas que dedicam suas vidas, suas lágrimas e seu suor pela causa, estão de luto [...] Enquanto a sociedade civil manifestava sua indignação por detrás de seguranças e cordões que barravam sua entrada na casa que é do povo, a Comissão de Direitos Humanos elegia um pastor declaradamente racista e homofóbico para presidir a comissão que foi criada para fazer a ligação entre o parlamento e a população brasileira”, criticou o deputado.
Segundo ele, todas as ações de bastidores que foram possíveis, foram tomadas: “Fiz o que pude, juntamente com meus colegas, amigos e aliados dos Direitos Humanos da população brasileira”, observa.
Em crítica direta a Marco Feliciano, Wyllys voltou a repetir as acusações de homofobia e discriminação: “É aquele pastor cujo discurso público estimula a violação da dignidade humana desses grupos estigmatizados. Foi dele o discurso de que o problema da África negra é ‘espiritual’ porque ‘os africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por Noé’ [...] Foi ele também que se referiu à AIDS como ‘o câncer gay’, ressuscitando, pra seus milhares de fiéis, um estigma sobre os homossexuais que julgávamos morto e enterrado”, pontuou.
As movimentações entre os partidos seriam, de acordo com Jean Wyllys, uma ação organizada com a participação de partidos de situação e oposição, incluindo aí o PT, que é um dos partidos mais acusados pelas lideranças evangélicas de atuar contra as propostas pró-família e pró-vida.
“A tomada da CDHM foi tão orquestrada que nem adiantaram as nossas tentativas de diálogo para que um quadro mais identificado com a garantia dos Direitos Humanos e da dignidade das minorias estigmatizadas fosse indicado. Acompanhem: O PT abriu mão da CDHM, sabendo que o PC do B optaria pela de Cultura. Em seguida, com o PC do B tendo de abrir mão da CDHM, o PSC pegou a comissão. Sabendo que o PSC enfrentaria resistência dos demais membros, o PMDB (Eduardo Cunha, leia-se) abriu mão de suas vagas para o PSC. Com essa manobra, mais o apoio dos fundamentalistas do PSDB, que também cederam suas vagas, o PSC pôde garantir a maioria na CDHM”, protestou o deputado e ativista gay.
Confira abaixo, a íntegra do artigo “Luta que segue – o que temíamos se materializou”, do deputado Jean Wyllys no portal IG:
Hoje, os defensores, militantes, ativistas dos Direitos Humanos, aqueles e aquelas que dedicam suas vidas, suas lágrimas e seu suor pela causa, estão de luto. Um luto simbólico, mas tão real quanto a História que une as mulheres, os LGBTs, o povo de santo, os negros, as negras e todos os outros grupos difamados ao longo dos tempos. Enquanto a sociedade civil manifestava sua indignação por detrás de seguranças e cordões que barravam sua entrada na casa que é do povo, a Comissão de Direitos Humanos elegia um pastor declaradamente racista e homofóbico para presidir a comissão que foi criada para fazer a ligação entre o parlamento e a população brasileira.
Fiz o que pude, juntamente com meus colegas, amigos e aliados dos Direitos Humanos da população brasileira, Chico Alencar, Ivan Valente, Erika Kokay, Luiza Erundina, Luiz Couto, Padre Tom, Janira Rocha e Domingos Dutra (que renunciou ao cargo que era por ele anteriormente ocupado e liderou a nossa retirada do plenário antes da concretização da ditadura fundamentalista que se instalou na Comissão), e outros, mas nossa pequena “bancada” não teve chances perto da ditadura que ali foi imposta.
Manobra para destruir a CDHM como fórum político da voz das minorias
Sim, o que temíamos – mas não foi uma surpresa – se materializou. O deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Uma Comissão de Direitos Humanos e MINORIAS não pode ser presidida por alguém que se põe publicamente contra MINORIAS! Sendo a CDHM uma comissão política e não legislativa, o objetivo da manobra é DESTRUIR a CDHM como fórum político das vozes das minorias!
Para quem não lembra ou não conhece, Feliciano é aquele pastor cujo discurso público estimula a violação da dignidade humana desses grupos estigmatizados. Foi dele o discurso de que o problema da África negra é “espiritual” porque “os africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por Noé”, revivendo uma interpretação distorcida e racista da Bíblia que já foi usada no passado para justificar a escravidão dos negros. Foi ele também que se referiu à AIDS como “o câncer gay”, ressuscitando, pra seus milhares de fiéis, um estigma sobre os homossexuais que julgávamos morto e enterrado.
A tomada da CDHM foi tão orquestrada que nem adiantaram as nossas tentativas de diálogo para que um quadro mais identificado com a garantia dos Direitos Humanos e da dignidade das minorias estigmatizadas fosse indicado. Acompanhem: O PT abriu mão da CDHM, sabendo que o PC do B optaria pela de Cultura. Em seguida, com o PC do B tendo de abrir mão da CDHM, o PSC pegou a comissão. Sabendo que o PSC enfrentaria resistência dos demais membros, o PMDB (Eduardo Cunha, leia-se) abriu mão de suas vagas para o PSC. Com essa manobra, mais o apoio dos fundamentalistas do PSDB, que também cederam suas vagas, o PSC pôde garantir a maioria na CDHM. Após a suspensão da reunião de ontem, uma nova sessão fechada foi marcada pelo presidente Henrique Eduardo Alves para essa manhã, às 9h, e assim garantir o pastor Marco Feliciano na presidência da CDHM.
Nossa nação “subtraída em tenebrosas transações”
Nossa nação continua “subtraída em tenebrosas transações”, como cantou Chico Buarque pra se referir a manobras nos tempos da ditadura. Espero que os movimentos sociais não se cansem de contestar essa manobra e essa indicação absurda. E que outros atores sociais que defendem um ESTADO LAICO, a justiça social e a dignidade de minorias entrem nessa batalha também! Nós não desistiremos. Faremos o que for de nossa competência para tentar reverter esse quadro. Já está marcada, inclusive, uma reunião para terça-feira (12), onde discutiremos as nossas alternativas e já estamos recolhendo assinaturas para a criação da Frente Parlamentar em Defesa da Dignidade Humana e Contra a Violação de Direitos, que terá a deputada Luiza Erundina como presidenta. Luta que segue!
Termino com algumas palavras de Mahatma Gandhi, na tentativa de enxergar alguma luz na escuridão que se instalou na luta pelos direitos humanos do Brasil: “A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita.”
Por Tiago Chagas, para o Gospel+

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