segunda-feira, 20 de maio de 2013

Autor de 'Amor à vida', fala em ódio ao politicamente correto. Quero ver agora se cristãs vão dar ibope para está aberração


Walcyr Carrasco comentou vilão gay de trama lançada neste sábado em SP.
'Tenho que ser conhecido pela minha obra, não por bandeiras desfraldadas.'


A atriz Paolla Oliveira na festa de lançamento, em São Paulo, da novela 'Amor à vida' (Foto: Rogério Lorenzoni/Globo)

O vilão de “Amor à vida”, que estreia nesta segunda-feira (20), é gay – e a associação entre o caráter do personagem e sua orientação sexual representa, para o autor da próxima novela das 21h da TV Globo, um ato de incorreção política. “Estou odiando o politicamente correto. Eu quis romper com essa coisa politicamente correta”, afirmou Walcyr Carrasco na festa de lançamento da trama neste sábado (18), em São Paulo, durante entrevista da qual o G1 participou. A "coisa", explicou ele, seria a bondade habitual de homossexuais em ficções televisivas.
Quem interpreta o papel (um "enrustido", novamente nas palavras do autor) é Mateus Solano. Ele vive Félix, irmão da protagonista, Paloma (Paolla Oliveira). Quando “Amor à vida” começa – as ações iniciais acontecem no princípio da década passada –, a dupla está viajando com os pais (Antônio Fagundes e Susana Vieira) pelo Peru. Lá, Paloma se apaixona por Ninho (Juliano Cazarré) e abandona a ideia de se formar médica, porque agora quer viver com ele. Mas a felicidade não dura muito, justamente por intervenção de Félix. Sem ninguém saber, ele rouba a filha recém-nascida do casal. A situação se conclui com o bebê sendo encontrado por Bruno (Malvino Salvador). Será este último a terceira ponta do triângulo amoroso central.
Os três atores estiveram na festa. Cazarré e Paolla comentaram semelhanças com seus personagens. “Eu fiz artes cênicas numa universidade federal, né? E universidade federal no Brasil, a gente sabe, é reduto de socialistas, da esquerda, dos anticapitalistas e tal”, disse o primeiro, conhecido por ter feito o Adauto em “Avenida Brasil”. “Também tive esse meu momento ‘riponga’, querendo mudar o mundo através do amor e da arte.” Sua companheira de cena completa: “Eu sou apegada numa saia longa. E outra: acho que o espírito hippie é que é [um ponto de identificação], adoro montanha... Tem um pouquinho dela [Paloma] em mim”.
Esses conflitos que dão largada a “Amor à vida” foram todos mostrados no clipe da novela exibido na festa. O vídeo chegou até o presente da história, já nos dias atuais, quando a criança desaparecida cresceu e é interpretada por Klara Castanho. Malvino Salvador falou sobre o dilema de seu personagem. Bruno tinha boas intenções ao assumir a criação da menina, mas não cumpriu a lei. “Claro que a mãe [Paloma] tem direito, porque não tinha abandonado o bebê”, aponta Salvador. “Só que o Bruno a criou, e a filha o ama. Será que esse pai não tem direito de ter contato e acompanhar a vida da criança?”
O autor de 'Amor à vida', Walcyr Carrasco, assiste ao clipe da novela na festa de lançamento (Foto: Rogério Lorenzoni/Globo)Walcyr Carrasco assiste ao clipe da novela na festa
de lançamento (Foto: Rogério Lorenzoni/Globo)
‘Bandeiras’
O vídeo de “Amor à vida” apresentado neste sábado teve passagens cômicas, como as que traziam a jovem Valdirene (Tatá Werneck, estreante em novela) tentando seduzir o jogador de futebol Neymar (aparentemente fazendo papel dele mesmo). A própria atriz resume o papel: “A Valdirene não é uma periguete gostosa, sarada e sensual. Ela acha que é gostosa e não é, acha que é sarada e não é, e acha que é sensual e não é.”
O clipe, contudo, não mostrou os outros gays da novela, Niko (Thiago Fragoso) e Eron (Marcelo Anthony). “É um personagem que nunca foi feito na TV, um bissexual”, descreve Anthony acerca de seu papel, observando que ainda não começou a gravar. “Ele começa a novela numa relação com o companheiro, uma relação homossexual. Mas talvez tenha o envolvimento com uma mulher”, adianta o ator. Além disso, Niko e Eron vão servir a uma discussão envolvendo adoção por casais formados apenas homens.
“A novela vai abordar vários temas, mas acredito que a homossexualidade, do jeito que está colocada, vai mobilizar bastante a população para se discutir isso”, prossegue Anthony. “Os personagens vão fazer entrevistas para achar uma mulher [que sirva de ‘barriga de aluguel’].”
Walcyr Carrasco aponta que esse assunto está “Amor à vida” porque “a gente vê na realidade”. “É uma trama que tenho visto muito, que tem acontecido muito na vida, o casal gay ou lésbico que procura ter uma família até nos moldes tradicionais: ter um filho, levar na escola, em reunião de pais e mestres...”. Ele cita, então, um livro infantil de sua autoria: “Meus dois pais” (2010). O escritor parece rejeitar, no entanto, a noção de que a novela existe, sobretudo, em favor de uma causa. “Eu não sou um autor que paro para dar recados. Tenho que ser conhecido pela minha obra, não por bandeiras desfraldadas.”
Já sobre Félix, opina: “As pessoas que não vivem plenamente quem elas são tendem a ter uma amargura. O personagem expressa esta amargura: de não poder ser quem desejaria ser”. Na trama, o vilão é casado com uma mulher, Edith (Barbara Paz). O clipe chegou a mostrar uma cena em que Félix, após conhecer um homem, brinca consigo mesmo dizendo que gostaria de ter apendicite. O alvo de seu interesse era um médico.
Fonte: G1

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