sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Gaviões da Fiel acusa de plágio a torcida corintiana gay Gaivotas Fiéis

Advogado alega que versão gay não teve autorização para imitar símbolos.
Polícia investiga denúncia de crime contra marca; criador nega ter copiado



Símbolo da Gaivotas Fiéis (à esquerda) e da Gaviões da Fiel (à direita): maior torcida do Corinthians acusa a versão gay de plágio (Foto: Reprodução)Símbolo da Gaviões da Fiel (à esquerda) e da Gaivotas Fiéis (à direita): maior torcida do Corinthians acusa a versão gay de plágio (Fotos: Divulgação)
A Gaviões da Fiel, maior torcida organizada do Corinthians (com 98 mil associados), acusa de plágio a Gaivotas Fiéis, torcida gay do clube de futebol criada há dois meses. A Polícia Civil de São Paulo apura a denúncia e investiga se o responsável pela Gaivotas cometeu crime contra registro de marca ao imitar o nome e os símbolos da Gaviões sem autorização. Ao G1, o criador da Gaivotas, o jornalista e apresentador Felipeh Campos, de 39 anos, que é gay assumido e se declara corintiano 'roxo ou cor-de-rosa', negou ter plagiado a Gaviões.

Além de fazer alusão ao nome Gaviões da Fiel, a Gaivotas Fiéis tem outros símbolos que remetem à torcida mais famosa. Na nova versão, há uma gaivota no lugar de um gavião segurando o emblema do Corinthians. Os remos dão lugar a pincéis de maquiagem e a âncora é um suporte para espelho. Dentro dele aparece a bandeira do estado de São Paulo, mas com as cores do arco-íris, numa menção ao grupo LGBT (sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros).

“Ingressamos com uma petição hoje requerendo instauração de inquérito policial porque entendemos que esse cidadão que criou a Gaivotas Fiéis incorre em crime ao induzir a população a confusão com a marca Gaviões da Fiel”, disse nesta quarta-feira (23) um dos advogados da Gaviões, Ricardo Cabral.
De acordo com o delegado Fulvio Mecca, assistente do 1º Distrito Policial de Guarulhos, na Grande São Paulo, que recebeu a denúncia do departamento jurídico da Gaviões, ela será investigada.
“Ele está imitando a nossa marca de modo indevido. Imita a Gaviões tanto no nome quanto no logotipo, dando a entender que Gaivotas Fiéis podem ser extensão da própria Gaviões da Fiel, o que não é verdade”, explicou Cabral.

Segundo ele, a Gaviões não está contra a comunidade gay, apenas não concorda com o uso de sua marca sem autorização. “Não temos nada contra ele abrir uma torcida gay do Corinthians. O que a gente não quer é que ele use de plágio com o nome da instituição Gaviões, que tem 44 anos de existência, para confundir o consumidor”, argumentou o advogado. “Espero que quem criou essa torcida, não use mais o nome Gaivotas da Fiel e nem os nossos símbolos copiados”.

Questionado se a Gaviões pretende criar uma versão gay da sua torcida, Cabral foi enfático. “A Gaviões não tem intenção em fazer torcida gay. Não somos contra e nem a favor”.

Polícia
“A polícia investiga a denúncia de plágio da marca Gaviões da Fiel. A acusação é que estão usando indevidamente e sem autorização os símbolos da Gaviões e do próprio Corinthians”, disse o delegado Fulvio Mecca ao G1. “O plágio, nesse caso, se caracteriza por usar marca sem autorização ou imitar e induzir a confusão. A reclamação da Gaviões é em relação a essas cópias”, afirmou.
Segundo Mecca, o próximo passo da investigação será o de chamar a Gaviões e a Gaivotas para serem ouvidas. De acordo com a petição encaminhada pelos advogados da Gaviões ao 1º DP, a Gaivotas cometeu crime contra a propriedade industrial, pelo o artigo 189, inciso 1º, segunda parte, da Lei nº 9.279/1996, dos Crimes Contra Marcas.

Segundo a resolução, comete crime quem imita a marca “de modo que possa induzir confusão”. Se for considerado culpado, o autor pode ser condenado pela Justiça a pena de detenção de um a três meses ou multa.

No documento, a Gaviões alega que tem 44 anos de história e a sua marca está registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e que “foi surpreendida com a criação de uma marca a qual se assemelha muito com a sua”.

“Dessa forma, a denominação ‘Gaivotas Fiéis’ aliado ao seu logotipo são extremamente assemelhados com os de nossa agremiação, fazendo alusão e incorrendo em manifesta confusão com relação a marca ‘Gaviões da Fiel’, de modo que incorre em crime, uma vez que manifesta similitude fonética e visual entre as marcas da mesma categoria (Torcida Organizada do Sport Clube Corinthians Paulista, suficiente para gerar confusão induzindo o consumidor em erro, explorando indevidamente o prestígio de marca alheia, fazendo parecer que a mesma seria uma extensão da Agremiação Gaviões da Fiel Torcida”, diz trecho do pedido feito pelos advogados Ricardo Cabral e Davi Gebara Neto.

Gaivotas Fiéis
Ao G1, Felipeh Campos, criador da Gaivotas Fiéis, negou ter plagiado a Gaviões da Fiel. "Em primeiro lugar: o distintivo do Corinthians não é da Gaviões. Não é de torcida nenhuma. Eu posso usar o distintivo da forma que quiser. Eu não estou copiando nada. Não é um gavião é uma gaivota", afirma Campos.

"Eles querem meu pincel emprestado? Eu empresto”, disse, ele que chegou a dar entrevistas à imprensa neste mês sobre a criação da torcida. “Não foi um plágio. O jurídico da Gaviões devia tomar cuidado com agressões nos estádios. Se eles querem me processar por uma coisa pequena, eu acho hipocrisia. Consultei um advogado, a torcida que criei tem até estatuto”, disse.

Na web, alguns corintianos estão ameaçando o criador da Gaivotas por conta da comparação que estão fazendo com a Gaviões. Também foram criadas páginas nas redes sociais com o nome 'Gaivotas Fiéis' e "Gaivotas DA FIEL'. "Nenhuma delas é oficial. A oficial ainda será criada", disse Felipeh, que pretende confeccionar camisas oficiais da torcida gay. "Mais de 500 mil pessoas querem se associar a Gaivotas".
“Eu não estou fazendo isso para incitar nenhuma torcida. Quero inserir os gays nos estádios de futebol. Um dia quiseram bater em um colega gay meu, que é jornalista, e estava trabalhando na cobertura de um jogo. O conceito da Gaivotas Fiéis é gay, mas não será uma torcida preconceituosa ao ponto de vetar mulher, heterossexual e criança.”

“Alguém precisa levantar a bandeira. Se eu morrer, eu morro feliz. Não tenho medo. Se eles quiserem vir para cima eles que venham. Antes de ser gay, sou homem. Se eles quiserem dar porrada eu vou descer o cacete. Não estou incitando a agressão”, disse Felipeh, que não esta frequentado estádios por conta das ameaças que vem recebendo pela internet.
“Se alguém não der o primeiro passo... Quem disse que gay não pode ir a estádios de futebol, não pode torcer e participar do futebol brasileiro?", indagou Felipeh.
Sheik (Foto: Rede Globo)Emerson Sheik (Foto: Reprodução/Rede Globo)
Memória
Não é a primeira vez que uma torcida do Corinthians se envolve com o tema homossexualidade. Em agosto deste ano, a Polícia Civil informou que chamaria o jogador Emerson Sheik e a Camisa 12, respectivamente jogador de futebol e torcida organizada do clube, para falarem sobre a polêmica envolvendo a publicação da foto do atleta nas redes sociais dando um selinho em um amigo.

A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) queria saber do atacante se ele deseja fazer uma representação contra alguns torcedores que o teriam ameaçado depois do beijo que deu em Isaac Azar, dono do restaurante Paris 6, nos Jardins.
A Decradi  investigava cinco integrantes da Camisa 12 por suspeitas de ameaça contra Sheik e homofobia contra a presença de gays no time. Além da ameaça, os investigados também poderiam responder por injúria, que necessitaria de uma queixa-crime por alguém que tenham se sentido ofendido pelos comentários homofóbicos dos torcedores.
G1 não conseguiu localizar o atacante ou os representantes da organizada para comentarem o assunto. O atacante corintiano, que se declara heterossexual, se tornou alvo de protestos de um grupo ligado à torcida organizada na segunda-feira (19) ao postar no dia anterior no seu perfil, no Instagram, uma imagem dele beijando o amigo.
Fonte: G1

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